Caros pais, meu nome é Raquel, nutricionista materno
infantil, especialista em aleitamento materno e, atualmente, atualmente
com Diabetes. Mas, na verdade, o que eu sou antes de tudo é uma mãe que apesar
de toda bagagem profissional resolvi compartilhar com vocês este texto que
intitulei com uma frase a qual eu mesma já expressei, falei , chorei e até
gritei aos quatro ventos, pediatra, marido e até no travesseiro ao dormir.
Afinal, porque tantas de nossas crianças passam por algumas fases de
inapetência (falta de apetite)? Onde a única coisa que parece saciá-las é um
doce, um copo de suco ou leite.
A formação de um bom hábito alimentar inicia-se ainda no
primeiro ano de vida de nossos filhos com a introdução dos alimentos complementares,
logo aos seis meses de vida, e com as experiências positivas e negativas
ligadas à alimentação ao longo da infância, além das diversas influências do
meio que as circunda, principalmente no âmbito familiar.
No primeiro ano de vida, a criança apresenta um crescimento
e desenvolvimento acelerados, o que faz seu apetite ser voraz. Neste período,
ela esta na fase oral, sendo todo o prazer voltado para a alimentação. Por isso
devemos ter todo o cuidado e entendimento em formar ótimos hábitos alimentares,
principalmente, dos 06 aos 24 meses de vida. Insisto em dizer apenas a partir
dos 06 meses de vida, pois a recomendação do aleitamento materno exclusivo é
até esta idade, salvo algumas exceções. Saibam que a memória alimentar de um
indivíduo é formada até os 02 anos de idade.
O período pré-escolar, que compreende dos 02 aos 06 anos,
caracteriza-se por uma diminuição da velocidade de crescimento e
conseqüentemente diminuição do apetite, pois suas necessidades nutricionais
seguem o ciclo evolutivo do indivíduo. Além disso, o interesse pela alimentação
passa a ser secundário diante tantas atividades mais atrativas, divertidas e
coloridas que não estão diretamente ligadas ao alimento. Nessa fase a
alimentação de nossos “bebês” sai do NOSSO CONTROLE. Passa a ser irregular, de modo que a falta do
apetite é uma queixa muito comum nos consultórios de nutricionistas e
pediatras, nos corredores das escolas, ao telefone com nossas mães... Gerando,
muitas vezes, um grande problema na família.
A maioria das queixas de falta de apetite é, na verdade,
diagnosticada como indisciplina alimentar (sem horários fixos de refeição,
substituição de refeições por lanches e beliscos, comer guloseimas em qualquer
horário), seletividade alimentar (exclusão de legumes e verduras, frutas,
carnes) e preferência por alimentos líquidos ou pastosos, principalmente os
lácteos, além de neofobia alimentar (aversão ao alimento novo e ou diferente).
Devido à esta diminuição das necessidades nutricionais, a
quantidade de alimento consumida pelos pré-escolares é pequena (menor do que a
de costume), mas não significa ser insuficiente para seu desenvolvimento, o que
costuma ser um ponto de preocupação e dúvida para a maioria dos pais. Além
disso, como se já não fosse o bastante para tirar nosso sossego, a alimentação
passa a ser caracterizada pelo consumo de alimentos que apetecem às crianças,
isto é, de altos valores energéticos e ricos em carboidratos e gorduras:
exemplo clássico são as guloseimas e refrigerantes.
Faz-se necessário que estejamos atentos e buscando
orientação quanto a alguns aspectos importantes de uma boa, saudável e
agradável alimentação, pois, com todo este contexto a nossa volta, o conflito
gerado em torno das refeições produz quadros que mobilizam angústia,
sentimentos de frustração e sensação de impotência levando pais, responsáveis e
cuidadores, muitas vezes, a utilizarem técnicas coercitivas para que a criança
se alimente, dificultando ainda mais toda esta situação. A criança por sua vez,
ressente-se e perde o prazer em se alimentar. O círculo vicioso se completa
quando principalmente, nos mães, também nos ressentimos com a situação. O
resultado desta dinâmica prejudica o vínculo afetivo e a autoestima, sobretudo
de nossos filhotes.
Lembre-se que nossos filhos necessitam de disciplina,
limites e rotinas. Mas é imprescindível para eles a oportunidade de explorar os
ambientes, os objetos e alimentos com todos os sentidos; portanto, permitir que
a criança manipule, cheire e prove um alimento novo é necessário para que ela o
incorpore à sua alimentação. Recomenda-se que um alimento novo para ser aceito
por uma criança deva ser oferecido em torno de 8 a 10 vezes até que ela o
aceite ou não. Ainda não o aceitando em certo momento, devemos repetir as
tentativas de tempos em tempos. Perante a recusa alimentar devemos agir de
forma natural e não brigar com a criança ou obrigá-la a comer, mesmo que isto
doa em nos e vá contra nossos mais profundos instintos de proteção.
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